Telmo Regis

Talvez ... e somente talvez, estejamos mais focados em ter ... do que ser.

Textos

"O encontro perfeito... Quase "
"O Encontro Perfeito... Quase"

Carlos estava nervoso. Era seu primeiro encontro com Júlia, a garota dos seus sonhos, que ele finalmente tinha convencido a sair com ele após semanas de conversas no WhatsApp. Tudo estava pronto: restaurante reservado, camisa nova, perfume caro (comprado em promoção, claro), e o penteado... bom, ele tentou o melhor possível.

Ao chegar no restaurante, Carlos já suava. O ar-condicionado estava funcionando perfeitamente, mas seu nervosismo era imbatível. Quando viu Júlia, sentada na mesa, linda e sorridente, ele quase tropeçou na cadeira ao tentar cumprimentá-la. Foi o primeiro de muitos erros da noite.

— Oi, Júlia! Você está... incrível! — disse ele, tentando soar confiante, mas a voz saiu meio esganiçada.

— Obrigada, Carlos! — respondeu ela, simpática. — Você também está muito bem!

Carlos, aliviado, sentou-se. Tudo corria bem até o garçom se aproximar com o cardápio.

— Boa noite, o que vão querer?

Carlos, querendo impressionar, decidiu mostrar seu conhecimento culinário.

— Eu vou querer o... humm... Filet mignon à la foie gras avec sauce... roquefort — disse, mal pronunciando o francês, mas achando que tinha arrasado.

— Ótima escolha, senhor! — disse o garçom, claramente segurando o riso. — E para beber?

— Vinho! O melhor vinho da casa, por favor! — respondeu Carlos, tentando soar sofisticado.

O garçom anotou e saiu, deixando Carlos e Júlia a sós. Ele tentava puxar assunto, mas parecia que toda vez que abria a boca, saía uma gafe.

— Você sabia que o foie gras é um tipo de... peixe? — disse ele, tentando parecer inteligente.

Júlia o olhou confusa.

— Na verdade, é feito de fígado de pato ou ganso, não é? — corrigiu ela, educadamente.

Carlos riu, sem graça.

— Ah, claro, claro, era só uma pegadinha! — mentiu, tentando disfarçar o constrangimento.

Enquanto aguardavam a comida, Carlos acidentalmente derrubou o garfo no chão. Na tentativa de pegá-lo rapidamente, bateu a cabeça na mesa.

— Ai! — exclamou, tentando manter a pose. Júlia, vendo a cena, não conseguiu segurar a risada.

Finalmente, a comida chegou. Carlos, ainda determinado a impressionar, pegou os talheres e começou a cortar o filet mignon com elegância, mas ao enfiar o garfo na boca, percebeu que havia algo errado.

— Isso está... cru? — perguntou ele ao garçom, com o rosto contorcido.

— Senhor, o steak tartare é cru, sim — respondeu o garçom, agora sem conseguir mais segurar o riso.

Carlos queria cavar um buraco e desaparecer. A essa altura, ele já tinha aceitado que aquele não seria o encontro perfeito que imaginava. Mas, surpreendentemente, Júlia não parava de rir. Não de forma maldosa, mas genuína, como se cada trapalhada de Carlos a deixasse mais à vontade.

— Sabe, Carlos — disse ela, ainda rindo —, eu estava tão nervosa com esse encontro, mas você me fez relaxar completamente!

Carlos olhou para ela, surpreso.

— Sério? Eu pensei que estava arruinando tudo...

— De jeito nenhum! Eu gosto de gente que não tem medo de ser um pouco... desajeitada. — E piscou para ele.

O resto da noite correu de forma mais leve, com Carlos desistindo de tentar ser perfeito e apenas aproveitando a companhia de Júlia. No final, ele a acompanhou até a porta do restaurante, e quando foram se despedir, ela lhe deu um beijo no rosto.

— Vamos fazer isso de novo, mas da próxima vez, sem o steak tartare, ok?

Carlos sorriu, agora mais confiante.

— Combinado. Da próxima vez, eu mesmo faço o jantar... só preciso aprender a cozinhar primeiro.

Ambos riram e se despediram, com a promessa de que, por mais que o encontro tivesse sido uma comédia de erros, o próximo seria ainda melhor... ou, pelo menos, mais engraçado.
Telmo Regis
Enviado por Telmo Regis em 25/09/2024
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